Rádio Philco, déc. 1950 - Fotógrafo não identificado - Coleção MIS - Acervo FMIS/RJ

FASE DE SEGMENTAÇÃO

A década de 1950 foi difícil para as emissoras de rádio. A emergência da televisão como meio de comunicação de massas gerou, dentre outros impactos, a queda de audiência e, consequentemente, a diminuição brusca das receitas de publicidade no rádio. Enquanto os formatos de maior sucesso no rádio migravam para a televisão, a programação radiofônica foi restrita à música, ao jornalismo, à cobertura esportiva, e aos programas de prestação de serviços e com enfoque local. Por outro lado, foi um período de intensas transformações na sociedade: o milagre econômico propiciou o aumento do consumo individual; a revolução cultural elevou o jovem a um novo status na sociedade, com uma construção de gostos e hábitos próprios; a migração interna mudou a configuração demográfica do país, e a população urbana superou a rural. As metodologias de medição qualitativa da audiência utilizadas desde a criação do Ibope na década de 1940 foram essenciais ao desenvolvimento de formatos segmentados no rádio que atendessem a essa nova dinâmica social. Nesse período, avançaram as discussões acerca da legislação, que vinham sendo demandadas pelo setor de forma organizada desde a década de 1940. Finalmente, em 1962 foi aprovado o Código Brasileiro das Telecomunicações. Contudo, o golpe militar acarretou às emissoras um novo período de censura baseado na ideologia da Segurança Nacional.

Rádio Sanyo, déc. 1970 - Fotógrafo não identificado - Coleção MIS - Acervo FMIS/RJ
Almirante aperta a mão de Jocélia na TV Tupi, 1957 - Fotógrafo não identificado - Coleção Almirante - Acervo FMIS/RJ
Rádio Sharp, déc. 1960 - Fotógrafo não identificado - Coleção MIS - Acervo FMIS/RJ
Rádio, déc. 1960 - Fotógrafo não identificado - Coleção MIS - Acervo FMIS/RJ
Almirante, Paulo Gracindo, José Mauro, Olavo de Barros, Sérgio Vasconcelos e Julio Louzada na primeira apresentação de televisão pelo vídeo, 1950 - Fotógrafo não identificado - Coleção Almirante - Acervo FMIS/RJ

1954

A Rádio Bandeirantes (SP) inovou a programação noticiosa ao criar uma grade em que blocos de notícias com cerca de um minuto de duração entravam a cada quinze minutos e, nas horas cheias, em boletins de três minutos. O jornalismo ainda foi beneficiado pela agilidade dos formatos no rádio, as entradas ao vivo diretamente dos locais dos eventos e entrevistas externas. O slogan da rádio “Em vinte minutos, tudo pode mudar”, sintetiza o novo formato de programação.


1957

Começaram a ser transmitidos os cursos básicos do Sistema de Rádio Educativo Nacional (SIRENA), patrocinados pelo MEC e dirigidos por Ribas da Costa. No ano seguinte à criação, 11 emissoras irradiavam cursos básicos que visavam erradicar o analfabetismo, número que saltou para 47 emissoras em 1961. Apesar do êxito, a iniciativa foi extinta em 1963 e incorporada à Rádio Educadora de Brasília.

Você Sabia?

Em 1957 estreou, na rádio MEC, o programa Quadrante, apresentado por Paulo Autran. O programa alcançou grande sucesso ao longo dos sete anos em que esteve no ar. Quadrante foi o primeiro programa de rádio educativo a ter mais audiência que os programas de rádios comerciais.


1961

Fundação do Movimento de Educação de Base (MEB), ligado a grupos da Igreja católica. O MEB criou escolas radiofônicas que combinavam alfabetização com conscientização, e contrataram animadores populares como mediadores das atividades.


1962

Fundação da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), entidade organizada para influenciar junto ao Congresso na derrubada de determinações da presidência da República que privavam o setor da livre iniciativa.

Sancionado o Código Brasileiro de Telecomunicações através da Lei 4.117, de 27 de agosto, que foi regulamentada pelo Decreto no 52.026, de 20 de Maio de 1963, que dentre outras medidas criou a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel).

Você Sabia?

A demanda pela criação do Código das Telecomunicações era crescente desde o final da década de 1940, quando a Associação das Emissoras de São Paulo (AESP) conseguiu aprovar um projeto e apresentá-lo à Câmara dos Deputados, mas a proposta não obteve continuidade. Apenas em 1958, durante a presidência de Kubitschek, o projeto foi retomado com a autoria do deputado e radialista Nicolau Tuma, conhecido popularmente como "speaker-metralhadora" por ter narrado dez gols com impressionante velocidade durante uma partida entre as seleções de São Paulo e do Paraná. Somente em 1961, quando já ocupava a presidência Quadros, foi publicado o decreto 50.666, de 30 de maio de 1961, o qual criou o Conselho Nacional de Telecomunicações e o condicionou à apresentação do anteprojeto do Código. O primeiro Código Brasileiro de Telecomunicações foi finalmente sancionado pelo presidente João Goulart em 1962.


1963

Aprovado o projeto de regulamentação da profissão de radialista por João Goulart.

Primeira greve geral dos radialistas, organizada em novembro.


1964

Em decorrência do golpe e da instauração da ditadura militar, ocorreu a interdição da Rádio Mayrink Veiga devido a seu caráter legalista e a investigação e à cassação de vários astros da Rádio Nacional.

Reportagem "Heitor dos Prazeres: vou enfrentar a vida sem temor", 1964 - José Carlos Rêgo - Coleção Sérgio Cabral - Acervo FMIS/RJ

1967

Através do Decreto-lei 162, de 13 de fevereiro, o Código é alterado e a União passa a ter competência exclusiva na exploração dos serviços de telecomunicações, diretamente ou através de autorizações ou concessões, retirando os Estados e Municípios essa prerrogativa. Com a modernização da infraestrutura das comunicações colocada em prática pelos governos militares, houve a interiorização da radiodifusão. Foram concedidas emissoras às oligarquias regionais, empresários e políticos. A falta de obstáculos legislativos à concentração empresarial ou à operação de emissoras em redes gerou um cenário de conglomeração dos meios de comunicação, caracterizado pela propriedade cruzada dos meios (jornais, emissoras de rádio e estações de TV).

Aprovada a Lei n. 5.250, conhecida como Lei de Imprensa, que estabeleceu parâmetros coercitivos aos meios de comunicação de massa. Com a decretação do Ato Institucional de 1968, jornalistas enquadrados em algum delito previsto na Lei de Imprensa poderiam ter seus direitos políticos suspensos e cassados. Caso presos, não teriam direito a habeas corpus.

Criação do Ministério das Comunicações.

Você Sabia?

A segmentação foi a dinâmica característica das emissoras na década de 1960, baseada na estratégia de criação de conteúdo específico a determinado grupo social a fim de direcionar as campanhas de publicidade. Com isso, as emissoras organizaram-se em basicamente três grupos:



● rádio popular: voltada aos ouvintes das classes C, D e E, adultos, com escolaridade inferior à conclusão do ensino fundamental. Caracterizou-se por uma programação marcada pela coloquialidade dos comunicadores, sucessos musicais, exploração do noticiário policial e pelo assistencialismo.


● rádio musical jovem: público de até 25 anos oriundos das classes A e B, com educação universitária ou secundária. A programação é conduzida pelos DJs, com linguagem descontraída e apresentando novos gêneros musicais.


● radiojornalismo: enfocadas em notícias para o público adulto das classes A e B com educação superior ou média. Beneficiaram-se do desenvolvimento da transistorização por permitir a presença do jornalista junto aos fatos, apurando as notícias enquanto os programas eram conduzidos por um âncora.

Nara Leão, Gilberto Gil, Caetano Veloso e os Mutantes (Arnaldo Batista, Rita Lee e Sérgio Dias) no lançamento do disco Tropicália na casa de espetáculos Dancing, 1968 Fotógrafo não identificado Coleção Nara Leão Acervo FMIS/RJ

1969

Fundação da Rádio Mulher. Criada pelo empresário Roberto Montoro mas com uma equipe majoritariamente feminina. A rádio podia ser escutada em São Paulo na frequência 930 AM. A emissora trazia uma programação com assuntos considerados atraentes ao público feminino, como moda, músicas românticas e astrologia. Integraram a equipe inicial da Rádio Zuleide Ranieri, Claudete Troiano, Germana Garilli, Jurema Yara, Leilah Silveira e Léa Campos

Você Sabia?

A Rádio Mulher também tinha espaço para os esportes. Em 15 de junho de 1971 a rádio transmitiu a primeira narração esportiva feita por uma mulher, Zuleide Ranieri. Zuleide narrou o jogo entre Palmeiras e Portuguesa de Desportos.

ZULEIDE RANIERI

Zuleide Ranieri Dias (1945 - 2016), foi uma jornalista pioneira na narração de partidas de futebol feita por mulheres no Brasil. Iniciou sua carreira no jornalismo esportivo na rádio santista Cacique. Após uma passagem pela Rádio Piratininga de São José dos Campos, passou a integrar a primeira equipe da Rádio Mulher na década de 1970.


1970

Criação do Projeto Minerva, um programa do governo federal de veiculação de conteúdos de 30 minutos de cunho informativo-cultural e educativo, com transmissão obrigatória por todas as emissoras do país. O programa acabou não conquistando a população, mas ficou no ar entre outubro de 1970 e outubro de 1989.


1971

Durante seis dias, foi ao ar a Rádio Paranóica, iniciativa de Eduardo e Joaquim Luiz Ferreira Silva, adolescentes moradores do Espírito Santo. Durante um período de grande repressão política, a emissora foi um marco da história do movimento das rádios livres no Brasil.

Você Sabia?

Na década de 1970 as rádios livres, chamadas rádios piratas, ganharam força no Brasil em meio à repressão política do regime militar. O movimento Rádio Livre visa combater o monopólio do Estado sobre as concessões e o poder do mercado publicitário. O movimento ganhou força conforme facilitou-se o acesso às tecnologias da comunicação, assim como com o fortalecimento das organizações e movimentos sociais. Algumas das iniciativas de destaque foram Rádio Spectro, Estrôncio 90, Alfa 1, Colúmbia, Fênix, Star e Centauros.

É o sonho de criar um meio de expressão para toda a gente da comunidade. Cada pessoa da comunidade, ao expressar-se pelo rádio para vizinhos, amigos e colegas, ganha uma dimensão pública. É uma forma bastante eficaz de transformar em realidade o princípio da cidadania. Tudo isso tem a ver com a dignidade, a autoestima e as aspirações por uma vida melhor
Fred Guedini


1972

Implementado o Programa Nacional de Telecomunicações determinado pela Lei nº 5.792. Dentre outras medidas, o Programa criou a TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S/A.), vinculada ao Ministério das Comunicações. A inauguração da Telebrás contribuiu para a centralização da política de telecomunicações pelo Estado brasileiro, sendo a empresa o órgão executor e operacional da nova diretriz do Estado.


1974

Criado o projeto de educação primária via satélite, o Projeto SACI (Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares), um projeto que envolveu a Comissão Nacional de Atividades Espaciais, a Nasa e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) . O programa foi desenvolvido de forma piloto no Rio Grande do Norte, onde atendeu a 16 mil alunos e 2 mil professores pelo sistema de rádio e televisão.


1975

O rádio FM passa a ganhar mais entrada e, com ele, as rádios dedicadas exclusivamente a música. As emissoras passaram a criar uma relação de identificação com uma faixa específica do público, da qual reproduzia a linguagem e a cultura.

Você Sabia?

Durante a década de 1970 ganharam força as emissoras caracterizadas por uma programação centrada na música e voltada ao público jovem, seguindo o modelo norte-americano. Com a ascensão do rock’n’roll e a música black com os bailes do Rio de Janeiro, conhecedores e produtores culturais do meio musical eram convidados a estar nas rádios, como foi o caso de Big Boy, um dos promotores do Baile da Pesada na capital carioca que foi convidado para apresentar dois programas - “Big Boy” e “Ritmos de Boate” - na Rádio Mundial

O diretor Roberto Farias dirige Erasmo Carlos, Wanderléia e Roberto Carlos, 1968 Fotógrafo não identificado Coleção MIS Acervo FMIS/RJ

BIG BOY

Newton Alvarenga Duarte (1943 - 1977), o Big Boy, foi um dos mais importantes disc jockeys do rádio brasileiro. Aficcionado por música desde a infância, era um profundo conhecedor do pop e do rock and roll, o que o levou a frequentar os estúdios da Rádio Tamoio no Rio de Janeiro. Participou da reformulação da Rádio Mundial AM, que se tornou a emissora de maior audiência entre o público jovem na cidade. Revolucionou a linguagem das emissoras ao introduzir um estilo próprio, irreverente e descontraído.

MARIA LYDIA FLANDOLI

Maria Lydia Fraga dos Santos Flandoli (1944) é jornalista. Formada pela Faculdade Cásper Líbero, atuou desde a década de 1970 na área do jornalismo opinativo como comentarista de notícias e âncora de programas de rádio e TV. Com o programa Defenda-se, da RecordTV, realizou o primeiro programa de TV destinado aos direitos do cidadão.


1976

Criação da Radiobrás (Empresa Brasileira de Radiodifusão), com os objetivos de organizar as emissoras, operá-las e explorar os serviços de radiodifusão do Governo Federal.


1977

Surgimento das emissoras evangélicas. No início dos anos 80, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou a Rádio Copacabana e, simultaneamente, expandiu o negócio para a televisão.

Você Sabia?

Durante a década de 1980, foi introduzido nas rádios o formato de jornalismo all news, com notícias 24h. A pioneira foi a Rádio Jornal do Brasil (RJ), por iniciativa do superintendente Carlos Leme, após viagem aos Estados Unidos. Mas foi com a Rádio Gaúcha (PoA), graças a coberturas esportivas e jornalísticas feitas com enorme planejamento e equipamentos modernos, que o jornalismo 24h se consolidou no Brasil.

1981

Vai ao ar a Rádio Favela, rádio comunitária do Conglomerado Serra, em Belo Horizonte. Sem fins lucrativos, foi criada para dar espaço aos moradores da Vila Nossa Senhora de Fátima. A rádio tinha programação voltada para música e para a vida da comunidade, incluindo questões como violência, discriminação racial e problemas de moradia da comunidade. Por três vezes, os transmissores da Favela FM foram lacrados por irregularidades. Em 1996, finalmente, a emissora obteve o alvará de funcionamento como entidade cultural.

Rádio Favela

Acessar

Você Sabia?

O filme Uma onda no ar, de Helvécio Ratton e lançado em 2002 conta a história da criação da Rádio Favela, desde seu início, como rádio ilegal até momentos mais recentes. Parte da bilheteria foi doada à rádio, que segue no ar.

A Rádio Fluminense FM, de Niterói, foi relançada como Maldita, com programação dedicada ao rock. A locução da rádio, diferente do habitual da época, era feita por mulheres, mesmo com um público ouvinte majoritariamente masculino.

MARA RÉGIA

Mara Régia (1951) é jornalista e publicitária, além de uma das radialistas mais relevantes da região norte do país. Iniciou sua trajetória na Rádio Nacional da Amazônia durante a década de 1980 após retornar de uma estadia em Londres, onde engajou com o movimento feminista. Em um período de escassa comunicação entre a região norte e o restante do país, foi pioneira na abordagem das questões ambientais e de gênero no rádio a partir de seu programa Viva Maria.

O programa Viva Maria foi ao ar no dia 14 de setembro na Rádio Nacional AM, de Brasília. Apresentado por Mara Régia, o programa fala sobre questões ligadas aos direitos e condições das mulheres, visibilizando a pauta do feminismo.


1988

Marco da redemocratização, a Constituição de 1988 dedicou um capítulo à Comunicação Social. Nele, é reafirmado o monopólio da União sobre a concessão da exploração da radiocomunicação no território nacional. Posteriormente, a Emenda Constitucional nº08 (1995) e a lei 9.472 (1997), permitiram a ampliação e universalização dos serviços de telecomunicações. Marcaram a substituição do modelo monopolista estatal para o modelo da exploração privada e competitiva que, a partir de 1996, passou a ocorrer por processos de licitação conforme o decreto 2108/1996.


1990

A rede Bandeirantes de rádio se tornou a primeira emissora no Brasil a transmitir via satélite, com 70 emissoras FM e 60 em AM em mais de 80 regiões do país.


1992

Criação da Sociedade dos Ouvintes da Rádio MEC do Rio (Soarmec) visando preservar e organizar a produção e memória da Rádio MEC.