FASE DE CONVERGÊNCIA

Chegamos na última fase do rádio, que se estende até hoje. A partir de meados da década de 1990, inovações tecnológicas como a universalização do acesso à internet e à telefonia móvel e outras possibilidades de consumo de entretenimento e informação modificaram a relação com os espectadores. O rádio se reinventa, torna-se multimidiático e repensa o formato de programas como os audiocasts e podcasts. O ouvinte se torna cada vez mais ativo na troca com as rádios, por meio dos celulares ou das redes sociais. As rádios comunitárias se espalham e permitem que comunidades incluam suas vozes pelo ar, seja para ouvir músicas que não tocavam em rádios comerciais, seja para compartilhar seus problemas do cotidiano. Vale destacar que minorias encontram nas rádios comunitárias e nas webrádios um espaço de reverberação das suas lutas. Rádios educativas, musicais, de jornalismo, de humor entre outras se multiplicam nas plataformas buscando seu nicho de consumidores.
O entendimento do rádio deixa de estar vinculado com a transmissões de onda, a era digital muda o caráter do consumo de conteúdo de áudio. Plataformas de streaming permitem que cada um de nós possamos criar nossos próprios rádios. Aplicativos de escuta de música replicam a lógica do rádio através da criação de programas de podcasts de entretenimento, informativos e jornalísticos além das listas de músicas. A programação segue, assim como o rádio, com incursões de propagandas e anúncios. O rádio se moderniza e parece longe de se extinguir. Após cem anos da primeira radiotransmissão oficial no Brasil, as ondas – agora carregadas por fios e sinais de web – continuam a entrar nos lares dos indivíduos e se espalham por todo o país.

O velho fantasma da extinção do rádio ronda mais uma vez nossos estúdios, trazendo angústias e incertezas a seus profissionais e gerando confusão entre os estudiosos do meio. Agora, a ameaça se chama internet, o fenômeno que parece querer subjugar o mundo nessa virada de milênio, devorando todas as mídias que o antecederam, até mesmo a televisão, até pouco tão garbosa no seu domínio sobre a civilização. Diante de tal poder e voracidade, quem tem chance de sobreviver? Alguém é louco de apostar no rádio?
Eduardo Meditsch


1995

A Central Brasileira de Notícias (CBN), rede associada às Organizações Globo, passa a replicar seu sinal em frequência modulada, respondendo à necessidade de presença das rádios em diversos suportes técnicos. Desde o final da década de 1990, a CBN também disponibiliza conteúdo para download e streaming na internet, além de produzir conteúdos exclusivos para a web.

Em setembro, nos Estados Unidos, a rádio Klif começa a transmitir sua programação de forma contínua na internet. Surge a primeira webradio comercial.


1996

Fundação da Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias), expressão local da tendência de organização associativa dos produtores de rádios comunitárias, que se iniciou em 1983 com a fundação da AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias) em decorrência do Ano Internacional das Comunicações organizado pela ONU no Canadá.

Você Sabia?

A Lei 9.612, de 1998, instituiu o Serviço de Radiodifusão Comunitária (RadCom), regulamentada pelo Decreto 2.615/98, que aprovou o Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitário. Para ser considerada comunitária, a estação precisa ter cobertura limitada a um raio de 1km a partir da antena transmissora e baixa potência, até 25 watts. Além disso, deve ser comprometida com a pluralidade e a divergência de pensamentos de todos os habitantes da região atendida, sendo necessária a autorização das associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos sediadas na localidade da prestação do serviço.


1998

A Rádio Totem, primeira rádio no Brasil a existir exclusivamente na web, iniciou suas atividades.

Você Sabia?

Segundo estudiosos, existem quatro categorias de web casting:



I. webrádios, que podem ser online (rádios do dial que também estão na web e web rádios puras, que só existem na web) e offline (rádios do dial que têm site, mas que não transmitem áudio pela rede);


II. playlists, listas de músicas disponíveis na web e consumidas em streaming;


III. áudio em demanda, que permite o acesso a áudio gravado (audiocast, podcast) a qualquer hora;


IV. portal de áudio, site que funciona como um centro aglomerador de canais de áudio por streaming ou download.

O rádio está sempre buscando novas saídas para as dificuldades que vão surgindo ao longo dos seus quase 90 anos de existência no Brasil. Quando se pensa que não há mais sobrevida para o veículo, ele ressurge das próprias tecnologias que poderiam sufocá-lo enquanto veículo de comunicação.
Rachel Severo Alves Neuberger


1999

Assinado o convênio entre o ministro da Educação Paulo Renato Souza e a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras Rádio e Televisão) no qual foi estabelecido a veiculação pelas emissoras associadas de conteúdos relativos às ações do MEC, como o Exame Nacional do Ensino Médio ou o extinto Provão, terminando com a leitura de um poema ou trecho de um conto ou romance. Por vezes, o programa contava com a participação do ministro, que lia e respondia cartas de ouvintes. Os programas deveriam ser veiculados em três blocos, entre às 6 horas e às 22 horas, aos sábados e domingos.


2003

Novo convênio entre Secretaria da Educação e ABERT garantiu ao MEC a divulgação gratuita de mensagens institucionais e de utilidade pública durante cinco minutos diários, na forma de inserções de 30 segundos a um minuto. Além disso, as emissoras transmitiam aos finais de semana três programas produzidos e distribuídos pelo MEC sobre alfabetização, ensino básico, tecnológico e superior, educação especial e a distância.


2004

Estreia um dos primeiros podcasts brasileiros, o Digital Minds, de Danilo Ribeiro, cuja data de criação marca o “Dia do podcast” no Brasil, 21 de outubro.

Fundação da Associação das Rádios Públicas no Brasil (Arub) por um grupo de 10 emissoras estatais, educativas, culturais e universitárias tendo Orlando Guilhon como presidente.


2005

Lançamento do projeto pioneiro Saberes das Águas, parte do Programa Brasil Alfabetizado. Barcos-escola e rádios comunitárias foram utilizados para reforçar o projeto-piloto de alfabetização de pescadores que o MEC e a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca desenvolvem em Xique-Xique, Remanso, Barra e Pilão Arcado, municípios baianos localizados às margens do Rio São Francisco.

Em setembro, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) autorizou as primeiras transmissões experimentais em doze emissoras brasileiras de sinais digitais dos serviços de radiodifusão sonora.

Você Sabia?

As vantagens do rádio digital em relação ao analógico são a eliminação de ruídos e reprodução fiel do conteúdo, a velocidade do processamento das informações e a facilidade da interface do sistema. O primeiro sistema digital surgiu na Europa na década de 1990 e alguns países planejaram extinguir o rádio analógico, como fez a Noruega em 2017. Os próximos devem ser Dinamarca (2023), Suíça (2024) e Alemanha (2029).


2006

Lançado pela Secretaria de Educação à Distância do MEC o programa Rádio Escola, baseado na oferta de três produtos: a série do professor, do aluno e do radialista. O material incluiu programas de rádio gravados em fitas cassetes ou CDs, e um guia impresso com instruções de uso e sugestões de atividades pedagógicas. O programa tinha como objetivos o aprimoramento pedagógico de comunidades escolares, o desenvolvimento de protagonismos cidadãos e o treinamento de grupos profissionais.

O Nerdcast, podcast criado por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, surge na internet. Foi um dos principais podcasts a ajudar a disseminar essa nova mídia no país, pois introduziu propagandas pagas no programa, estratégia de sustentabilidade financeira utilizada pelos podcast até os dias atuais e que garantiu sua expansão.

De início, suportes não hertzianos como web rádios ou o podcasting não foram aceitos como radiofônicos. No entanto, na atualidade, a tendência é aceitar o rádio como uma linguagem comunicacional específica, que usa a voz (em especial, na forma da fala), a música, os efeitos sonoros e o silêncio, independentemente do suporte tecnológico ao qual está vinculada.
Luiz Artur Ferraretto


2007

Realização do I Fórum Nacional de Rádios Públicas no qual o então presidente do Brasil, Lula, apresentou a ideia de criar “um sistema de rádio público”.


2008

Na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) é instituída a Superintendência do Rádio.


2009

As rádios públicas realizaram uma cobertura em rede do Fórum Social Mundial em Belém do Pará.


2010

Em março, o Ministério das Comunicações, por meio da Portaria 290, instituiu o Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD), mas sem escolher o padrão tecnológico a ser utilizado para a digitalização do veículo. O documento prevê a possibilidade de emissão em simulcasting, que permite ainda a recepção do sinal analógico, juntamente com o digital.


2011

Em março de 2011, o Ministério das Comunicações lançou o Plano Nacional de Outorgas para Radiodifusão Comunitária (PNO) com o objetivo de universalizar o serviço, limitado pela burocratização do processo de concessão. O Plano colocou como meta disponibilizar ao menos uma emissora em cada município brasileiro.


2013

Em 11 de novembro estreou o streaming da Rádio Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil.

Deezer chega ao Brasil em janeiro.

Rádio Yandê

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2014

Spotify chega ao Brasil em maio.

Você Sabia?

Com a facilidade da internet e da rádio digital, o acesso a rádios do mundo inteiro foi facilitado. Aplicativos como o Rádio Garden para celular permitem que você procure rádios em diferentes países ou selecione webrádios que apenas toquem um gênero musical ou apenas forneçam notícias sobre a sua região. Até você pode criar sua própria webrádio, como alguns aplicativos e sites permitem.

Encontre qualquer estação de rádio ao redor do mundo

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2022

Comemoração do centenário da primeira radiotransmissão oficial no Brasil.

Hoje, num país de analfabetos como o nosso, onde quem frequentou as escolas, morre de preguiça de ler, o rádio assume o papel de leitor, de intérprete, confidente para muita gente. Não é à toa que 98% dos brasileiros têm rádio - a TV não chega em todo lugar, mas o rádio chega. Isto é, o rádio foi e é uma máquina popular e democrática para a disseminação de informação e entretenimento.
Luiz Artur Ferraretto

Sob a influência de novas modalidades suscitadas pelo avanço tecnológico, constitui-se como rádio aquilo a que o ouvinte atribui esta caracterização, aquilo que ele necessita, que identifica e utiliza como tal.
Luiz Artur Ferraretto

É a conversão do meio em uma trilha sonora do cotidiano. O rádio se transforma, portanto, em um companheiro a quem milhares de pessoas recorriam – e ainda recorrem – diariamente.
Sonia Moreira